sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Um estranho pacifista

Ao receber o prêmio Nobel da Paz, o presidente Barack Obama defendeu a guerra justa. Que a há, há. No entanto, esse conceito não tem valor algum se o outro lado, o que está sendo "ajudado" contra os terroristas, assim não o entende. O fato é que a opinião predominante entre os paquistaneses e afegãos é que os norte-americanos são piores do que a Al Qaeda e o Taleban, o que é um evidente absurdo. Mas infelizmente ninguém ganha uma guerra sem o apoio do povo do país em que ela se desenvolve. O ex-presidente Eisenhower, comandante das tropas aliadas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial - uma guerra indiscutivelmente justa, mas que, ao contrário de Obama, conheceu seus horrores -, afirmou: "Odeio a guerra como somente um soldado que a viveu pode odiar". O fato é que a decisão de Obama de enviar mais tropas para o Afeganistão é uma cópia da de Bush em relação ao Iraque, quando, para preparar a retirada, enviou mais soldados. Só que, quanto ao Iraque, bastou um acordo secreto com o Irã para que o país persa, pragmaticamente, passasse a manter sob controle os xiitas iraquianos, credo majoritário em ambos os países. Em troca, os norte-americanos passaram a fazer vista grossa com relação ao programa nuclear iraniano. Propõem sanções inócuas apenas para "livrar a cara". Não é, obviamente, que lhes agrade um Irã com armas nucleares. Apenas não têm condições de enfrentar uma guerra em quatro frentes: Irã, Iraque, Paquistão e Afeganistão. Ainda mais que o Irã, por estar extremamente forte, se confrontado militarmente, infligiria perdas insuportáveis aos Estados Unidos.Obama precisa refletir sobre o motivo que levou Bin Laden a fazer do Paquistão o seu santuário, ainda mais porque ele, por oito anos, nunca foi incomodado pelas autoridades do país. Ou elas são impotentes ou coniventes. Deve se mirar, também, no ex-presidente Lyndon Johnson, que, para que seu partido, Democrata, vencesse as eleições legislativas, ordenou o ataque ao golfo de Tonkin, no Vietnã. A resposta foi a intensificação da guerra em um nível tal que nem com mais de 50 mil mortes ocorreu a vitória dos EUA. Amargurado, Johnson desistiu da reeleição. Nixon, republicano e falcão, foi quem chegou a um acordo de paz com o vietcongue. O pior para Obama é que no Afeganistão e no Paquistão quem se encontra do outro lado são organizações terroristas que, ao contrário do vietcongue, em hipótese alguma, negociarão, pois acreditam piamente que são os representantes de Alá aqui na Terra. Ainda mais que Obama está fazendo o jogo deles, pois, com a intensificação da guerra, se a vitória pender para o outro lado, a consequência será o controle das armas atômicas do Paquistão pelos fundamentalistas, aliados da Al Qaeda, o que será facilitado pelo fato de que, no Paquistão, todos os poderes, inclusive o militar, estão infiltrados por fundamentalistas.Obama anseia ser considerado um novo Lincoln. Mas, cada vez mais, se parece com Johnson e Bush. É uma pena... E trágico.

Nivaldo Elias MuradEngenheiro e professor

Jornal O tempo

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