sábado, 1 de janeiro de 2011

Carlos Lindenberg : Um momento Histórico

Carlos Lindenberg
Um momento histórico

Ao estourar o champanhe à meia-noite de hoje, o presidente Lula não deve estar comemorando apenas a chegada de um novo ano, senão o fim de um mandato dos mais fecundos dos últimos tempos. É evidente que, nesse período de oito anos, houve erros, alguns grosseiros, outros desnecessários, mas não se pode negar a Lula, por dever de justiça, o mérito inigualável de tirar da miséria o equivalente a uma Suíça inteira e mais alguma coisa, de resgatar do desemprego ou de oferecer o primeiro emprego a mais de 15 milhões de brasileiros e de influenciar as principais lideranças do mundo para que fosse estabelecida uma nova ordem nas relações multilaterais, quebrando, com outros chefes de estado, a perversa submissão de todos à vontade de meia dúzia - sete para ser exato.
Ninguém de boa-fé pode negar esses méritos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pode criticá-lo por suas excentricidades, como a de comportar-se, de maneira pouco formal, nas aparições públicas, pelos autoelogios nos palanques de inaugurações, por tudo isso e mais alguma coisa, sempre de maneira respeitosa como deveriam ser as críticas aos legitimamente eleitos - por respeito aos que o elegeram, sobretudo - mas não se pode deixar de dar a Lula o reconhecimento de um governo voltado para os problemas da maioria do conjunto da população, ainda que a minoria de sempre também tenha se beneficiado de sua administração. E qual o problema se um banqueiro lucrar mais, desde que o bancário também se beneficie? Pois aí está um outro resultado positivo do governo que termina à meia-noite de hoje. É difícil encontrar outro momento na história do país em que a renda tenha sido distribuída como neste, mesmo que ainda existam mais de 15 milhões de miseráveis à espera do resgate.
E aí está o desafio do governo que se instalará amanhã, em Brasília. Dar continuidade ao que Lula fez. E o fará, certamente, porque herda de Lula um país bem melhor do que aquele herdado pelo próprio Lula, sem desconhecer o legado de Fernando Henrique - melhor certamente do que o recebido do presidente Itamar, que por sua vez o passou adiante em condições bem mais favoráveis do que o recebido de Fernando Collor.
Lula não deve brindar somente porque passa à presidente eleita, Dilma Rousseff, um país menos desigual, em crescimento e com credenciais que o colocam entre os 20 mais importantes do mundo. Deve fazê-lo também pelo ato da transmissão em si. Será a primeira vez que uma mulher passará a presidir o país, feito só possível, talvez, à maneira Lula de governar e de fazer política, própria de um ex-metalúrgico com cursos profissionalizantes apenas e com a experiência de quem um dia passou fome por absoluta falta do que comer em casa e de quem perdeu um filho e a esposa no parto por amargar numa fila do antigo INPS - Maria de Lourdes, a esposa morta na sala de parto, era mineira, de Montes Claros. Critiquem os erros, cobrem resultados não alcançados, mas pelo histórico pessoal, devem-se perdoar os excessos da retórica, pelo menos. O resto, a história contará.
Postado em 31 de Dezembro, 2010 
Fonte: Jornal Hoje em Dia

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